Temos uma enorme tendência a agirmos por reciprocidade. Se recebermos carinho, retribuiremos com demonstrações de zelo e cuidado. Se percebermos atitudes e falas hostis, responderemos com um comportamento agressivo e aparente descaso e desprezo.
Isso tudo porque temos um medo enorme de expor a nossa vulnerabilidade, de perceberem nossas fragilidades e nossas fraquezas. Parece que ao retribuirmos maus tratos com bons gestos, estaremos nos humilhando sendo submissas, evidenciando medos ou inseguranças e permitindo que o outro continue a nos atacar e nos provocar cada vez mais.
Por isso, assumimos uma postura de embate, de enfrentamento, como se tivéssemos querendo medir forças, nos colocando no mesmo patamar ou, muitas vezes, até superior ao outro. Quanto mais percebemos nossas fragilidades, mais a necessidade de aparentarmos indiferença, desinteresse e apatia.
Sem percebermos, vamos nos acostumando a esse tipo de comportamento, vamos nos moldando e adquirindo características para, o tempo todo, competirmos com o parceiro. Nos tornamos alertas.
Aperfeiçoamo-nos à arte de reagir imediatamente, como se estivéssemos com as armas num local de muito fácil acesso e a qualquer sinal de perigo, nos protegemos com imensa braveza e rispidez. Esse frequente estado de alerta vai esgotando as suas forças.
É por isso que você se sente exaurida no fim do dia, como se um rolo compressor tivesse passado por cima de você. É como se tivesse passado o dia lutando contra fantasmas imaginários e ficasse aguardando esses fantasmas se materializarem a qualquer momento. Por isso, precisa estar sempre preparada.
Quanto mais nos sentirmos atacadas, mais teremos atitudes reativas. Quanto mais fragilidades emocionais, feridas da infância e carências afetivas carregarmos em nossa alma – em nossa psique – , mais teremos a necessidade de nos protegermos. A agressividade é uma forma de nos defendermos. Quanto mais agrido o outro, mais o afasto de mim.
Como mudar isso?
Por isso, a importância de nos percebermos e reconhecermos nossas vulnerabilidades. Quanto mais tomamos conhecimento de quem somos, mais conseguimos trabalhar nossos pontos fracos, nos fortalecemos; nos despimos de nossas couraças protetoras e vamos permitindo que o outro se aproxime. Sem a necessidade de dar o troco, sem medos, sem travas, sem bloqueios.
Podemos ser quem somos e assumirmos a nossa subjetividade, nossa sensibilidade, nossa delicadeza; não há necessidade de nos prepararmos para lutar. A nossa autoconfiança se torna inatingível, e por mais que o outro (ferido em sua dor) tente nos ferir, continuaremos sendo quem somos, porque já tratamos as feridas que sangravam quando tocadas. A nossa couraça passa a ser feita de feridas cicatrizadas.
O que atrai o comportamento carinhoso do outro é a sua feminilidade, sensibilidade, intuição, empatia e ternura. É a sua capacidade de AGIR com leveza e não REAGIR contra-atacando. Você se afasta do outro quando se afasta de si mesma, da sua essência e da sua verdadeira identidade.
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