“Um momento com um psicólogo é diferente de um desabafo com amigos. Através de uma escuta analítica, utilizamos pontuações que geram reflexão e esclarecimento, possibilitando uma nova percepção de mundo, retirando as lentes que embaçavam sua visão para enxergar além do que está vendo”.
Alessandra Domene
Muitos acreditam que desafogar as mágoas com um parente, familiar ou com amigos, tem o mesmo efeito que uma psicoterapia e com a vantagem de não ter que desembolsar nenhum investimento. Conseguiremos dizer o que está “entalado na garganta”, iremos chorar e sair aliviados, e de quebra, sairemos com alguns conselhos no bolso.
E com essa sensação de conforto, retomamos nossa vida. Talvez, nos utilizaremos dos conselhos dados por alguém que um dia beneficiou-se e deu certo, mas perceba, muito do que serve para uma pessoa pode não servir para outra.
É como um remédio manipulado, muitos querem utilizar-se do mesmo medicamento, mas sua fórmula contém os princípios ativos de acordo com a problemática de cada um. O conselho que está sendo dado é baseado na história e experiência de vida de cada um. Não quer dizer que se fizer o mesmo, terá o mesmo efeito.
Um conselho servirá apenas para uma ocasião, uma situação, mas a vida é feita de vários momentos, enquanto não aprendermos o que nos falta para nos relacionarmos melhor com o outro e, principalmente, entender como somos, o que queremos, o que sonhamos, dificilmente conseguiremos nos manter numa relação equilibrada e emocionalmente saudável.
Desabafar é apenas descarregar um fardo por alguns minutos, mas ele logo retornará, porque a questão não foi tratada na raiz. Enquanto não tratarmos a origem do problema, o peso retorna e com força total. É como uma febre, tomamos um anti-inflamatório para aliviar os sintomas, mas se não tratarmos a causa dessa infecção, a febre continuará persistindo e será cada vez mais intensa, porque o problema permanecerá existindo e, possivelmente, cada vez causando mais dor e sofrimento.
Um momento com um psicólogo é totalmente diferente de uma conversa ou uma troca de ideias e opiniões que existem entre amigos.
Psicoterapia
A psicoterapia é um espaço em que o paciente poderá falar, abertamente, sobre o que pensa, o que sente e o que faz em seu dia a dia e sobre o que está lhe causando aflições, ansiedade, angústias. Ciente que será um espaço sem críticas e sem julgamentos.
No setting terapêutico, o psicólogo através de uma escuta seletiva e analítica, proporciona o acolhimento necessário para que o paciente sinta-se à vontade para falar sobre suas dores, suas angústias, seus medos e suas fragilidades, sem sentir-se vulnerável ou em sinal de alerta.
O psicólogo não é um juiz e nem está ali para dizer o que está certo ou errado. Através da visão de mundo do paciente, conseguirá perceber de onde vêm seus questionamentos, suas dúvidas, suas incertezas e através de pontuações assertivas, o psicólogo ajuda o paciente a enxergar com maior clareza o que está sentindo e, principalmente, porque está vivendo como está vivendo.
Somos o que aprendemos ser
Quando crianças, fomos aprendendo através dos nossos pais ou nossos criadores o sentido da vida, aprendemos não somente a andar, falar ou outras atividades inerentes à infância, mas aprendemos através do que vemos, ouvimos e sentimos sobre todas as experiências da vida, assim como aprendemos a nos relacionar.
Quando crianças, ainda não temos noção do que é certo ou errado, apenas repetimos padrões que nos foram ensinados e assim vamos crescendo e nos desenvolvendo.
Sem falar de traumas, medos, inseguranças que também vivenciamos e que passam a fazer parte da nossa história e nossa mente consciente e/ou inconsciente. Os conteúdos que permanecem no inconsciente, não são lembrados, mas atuam fortemente em nossas ações e no nossos comportamentos durante toda a nossa vida.
Muitas vezes, nos questionamos porque agimos de determinada forma, porque repetimos padrões, mas não conseguimos obter nenhuma resposta, porque a origem desse comportamento está situada no inconsciente.
Quando atingimos a fase adulta, sem percebermos, vamos repetindo esses padrões de comportamento que vão prejudicando as nossas relações. Esses padrões podem nos atrapalhar em várias áreas da vida, mas aqui abordarei com maiores detalhes sobre os relacionamentos amorosos.
Carregamos “bagagens” para a nossa relação
Como expliquei anteriormente, carregamos “bagagens” para as nossas relações, através das experiências que vivemos e sozinhos, dificilmente conseguimos identificar o que é nosso e o que é do outro.
Numa relação tudo se mistura, sem dizer que você repete padrões que lhe foram ensinados, não que sejam seus, de fato, mas que foram ensinadas por seus pais, que aprenderam com seus avós, que por sua vez, aprenderam com seus bisavós. Valores foram sendo passados de geração em geração e carregamos esses ensinamentos ao longo da trajetória da nossa vida.
Em um dado momento, percebemos que não estamos vivendo como gostaríamos e passamos a nos sentir frustrados diante das escolhas que fazemos na vida e que nos levam para caminhos que nos mantém estagnados e, ao mesmo tempo, infelizes e insatisfeitos, mas não conseguimos romper esses padrões de comportamentos.
É nesse momento que se faz tão necessária a psicoterapia.
A importância de uma ajuda profissional
O psicólogo conseguirá, através de uma escuta diferenciada, identificar os padrões que se repetem e principalmente, perceber suas origens. Através de pontuações assertivas e questionamentos eficazes, você traz à luz da consciência o que estava guardado em seu inconsciente, mas que permanecia tremendamente atuante em suas ações.
Através da ajuda desse profissional, você conseguirá responder seus questionamentos e melhorar seu autoconhecimento, percebendo quem você é de fato, do que gosta, do que não gosta, o que quer e o que não quer para a sua vida, conseguirá abdicar do que lhe causa sofrimento e conseguirá fazer escolhas mais focadas e mais assertivas.
Quando você adquire esse autoconhecimento, passa a se respeitar e a fazer mais coisas por si e não somente pelos outros, você passa a se amar como é de fato, não como gostaria que fosse, reconhece suas qualidades e percebe pontos falhos a serem melhorados.
Essa reflexão é o que faz toda a diferença nesse processo de desenvolvimento, é o momento em que você vai em busca da sua melhor versão. Você consegue resgatar seu amor-próprio e aumentar sua autoestima, adquirindo autoconfiança e sentindo-se capaz de tomar decisões claras e objetivas de acordo com o seu bem-estar.
E isso não quer dizer, no caso de uma relação conjugal, que você deverá abrir mão do seu parceiro. Quanto mais você se encontra em todo esse processo, mais você se dedica a fazer sua relação ser cada vez mais saudável, porque você foca em seu bem-estar e no bem-estar da relação, sem medo de perder-se nesse processo, porque você já se reconhece em sua totalidade; já sabe o que quer e como conquistar o que mais deseja.
Passa a pensar, sentir e agir de forma diferenciada e de acordo com o preceito de que o outro muda conforme você muda. Não tem como o outro continuar agindo da mesma forma se você já alterou seus padrões de comportamento. E não é somente agir diferente, é agir de uma forma inteligente e eficaz.
Quando você muda, você altera toda a dinâmica conjugal.
Conseguiu entender a diferença entre a conversa com amigos e uma sessão de psicoterapia?
Espero que esse artigo tenha sido esclarecedor e que você possa, através dele, tomar as decisões mais corretas para a sua vida.
Pense nisso.
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