“A terapia de casal proporciona um espaço acolhedor para que o casal possa se comunicar com mais liberdade e para que possam se ouvir com clareza, falar sobre os entraves, as mágoas e os conflitos da relação.”
Alessandra Domene
Muitos casais acreditam que podem resolver os conflitos que se instalam nas relações, mas infelizmente, apenas a minoria consegue essa restauração.
A maior parte desiste no meio do caminho e decide pela separação e o divórcio e a outra parte, passa a vida toda infeliz e insatisfeita, reclamando e resmungando sobre a falta de sorte, se vitimizando e acreditando que não há o que fazer para recuperar a dinâmica conjugal.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo site G1.Globo, divórcios extrajudiciais subiram 26,9% de janeiro à maio de 2021, em relação ao ano passado.
Essa pesquisa só comprova o quanto os casais não estão conseguindo resolver sozinhos as suas demandas e seus conflitos conjugais e estão encontrando na separação a única saída para o fim dos seus problemas. Só que não.
Aparentemente, o divórcio é a saída mais rápida, mas nem de longe é a decisão mais assertiva para a relação, isso quando não envolve relações tóxicas ou abusivas.
Não estamos falando apenas de um acordo matrimonial, estamos falando sobre a quebra de sonhos, de projetos, de expectativas e da dissolução de famílias, porque normalmente, existem filhos nessa relação que passarão pela dor da separação dos pais.
Durante a minha trajetória e de vários atendimentos de casais, posso afirmar com toda a certeza, que nenhum dos dois se casa pensando em separar-se; se casam com a certeza de que realmente a união dará certo e que construirão uma linda família e realizarão todos os planos que um dia sonharam e idealizaram juntos.
Mas, infelizmente, ambos carregam experiências passadas e “bagagens” emocionais para a relação, ou seja, tudo o que aprenderam enquanto ainda eram crianças. Através do que foram experienciando com seus criadores, foram compreendendo como relacionar-se com o outro, sem saber distinguir o certo do errado.
O casal, quando inicia uma vida a dois, entra nessa jornada, cada qual com suas verdades, seus sonhos e suas expectativas acerca do parceiro e da relação. Essas expectativas, muitas vezes, não são conscientes, mas existem e guiam as nossas emoções e nossas ações; é quando cobramos do outro um comportamento que acreditamos ser o certo, porque se encaixa em nossos próprios padrões e valores que acreditamos serem corretos.
É onde surgem os primeiros impasses e desavenças na relação.
Abaixo, eu cito os conflitos mais evidentes que passam a fazer parte da trajetória conjugal, após ultrapassada a fase de encantamento (lua de mel) inerente a qualquer relacionamento:
Dificuldades de diálogo
O casal não sabe mais como comunicar-se de uma forma eficiente e assertiva, não consegue elucidar com palavras o que realmente querem dizer e a fala ocorre de maneira destorcida. Não conseguem parar para se ouvir, consequentemente, não se compreendem mais.
Não sabem quando abordar um determinado assunto e agem precipitadamente, não percebendo o seu momento e o momento do outro. Não conseguem falar de uma forma equilibrada e com exatidão e normalmente recorrem à gritos, grosserias e insultos, o que gera uma postura de ataque ou defesa no parceiro, impossibilitando que entrem num acordo.
Brigas e desentendimentos
Como o diálogo acaba saindo sempre distorcido, as palavras acabam sendo mal ditas e mal interpretadas, ocasionando a falta de entendimento de um e de outro.
O descontrole emocional, os gritos, as afrontas e os insultos passam a ser uma constante entre o casal, que não se ouvem mais e só pensam em como defender-se das provocações um do outro e fazer prevalecer suas verdades. O objetivo é sempre tentar provar ao outro que ele estava errado, não tentar entrar num acordo para o bem estar da relação.
Mágoas e ressentimentos
Depois de tantas desavenças e hostilidades, cada qual guarda consigo as palavras mal ditas e os comportamentos agressivos do outro, sentindo-se injustiçados e incompreendidos, o que reforça um sentimento de menos valia, insegurança, ingratidão, decepção e frustração.
Essas sensações dolorosas passam a ser alimentadas na mente de cada um, que lembram a todo instante dos momentos que causaram angústia e sofrimento, passam a ser uma espécie de “couraça protetora” que, aparentemente irá impedir que sofra novamente, por isso a frequente lembrança.
É como se fizessem questão de manter estampado no rosto triste e carrancudo esses amargores, como se fossem “cartas na manga”.
O problema é que esses sentimentos ruins não permitem que você libere o perdão, nem manifeste amor e nem receba o amor do outro, pois estão sempre presentes te lembrando que não pode mais confiar no seu parceiro.
Afastamento físico e emocional
Todos esses acontecimentos dolorosos e emoções negativas, vão criando um inevitável afastamento entre o casal, não somente físico, mas principalmente emocional e passam a ser como estranhos morando sob o mesmo teto; passam a não conhecer-se mais e nem saber mais o que acontece na vida do outro.
Tornam-se receosos em retomar certos assuntos, por terem sido alvo de tantas discussões, e o casal desiste de tentar falar sobre os conflitos, porque na verdade não encontram mais solução, estão descrentes e exaustos de tentar resolver os mesmos problemas sem sucesso algum.
Quebra de intimidade
A intimidade vai ficando cada vez mais escassa, não existem mais momentos a dois e nem manifestações de afeto e carinho, até que o casal passa a se relacionar apenas como um casal de amigos.
Falam sobre coisas corriqueiras do dia a dia, contas a pagar, questões com os filhos e tarefas domésticas, mas não têm mais longas conversas, o senso de humor desaparece totalmente e a desconexão é total.
Neste momento, podem ocorrer casos de traição, que não são justificáveis, mas todo ser humano possui carências, tanto físicas quanto emocionais, e muitos acabam buscando fora o que não encontram dentro de casa.
Quando ocorrem casos extraconjugais, torna-se ainda mais difícil restaurar a relação sem a ajuda de um mediador, pois a quebra de confiança é extremamente dolorosa, e apenas querer recomeçar não é suficiente, é preciso querer e saber perdoar para virar a página.
Não sabem mais o que querem
Nesse momento, não sabem mais como recuperar a boa relação que existia no início. É como se tivessem criado um abismo tão profundo que não conseguem mais sustentar uma ponte, uma conexão e a distância aumenta cada vez mais.
Qualquer palavra ou qualquer atitude, ao invés de aproximá-los, parece afastá-los mais a cada dia, e muitas vezes, a angústia é tão grande que ambos sofrem suas dores em silêncio, cada qual em seu mundo.
Quando o casal não sabe mais como resolver essas questões, pensa em divórcio ou acostuma-se a viver nessa zona de conforto (que não tem nada de confortável) e vão esperando os dias passarem, na esperança de um milagre acontecer e num passe de mágica mudar toda essa dinâmica.
A terapia de casal te ajuda nesse processo, propiciando através do setting terapêutico um espaço acolhedor para que o casal possa falar sobre suas aflições, seus medos, suas angústias, sem ser interrompido e sem receio de lidar com seus desconfortos.
O psicólogo na figura de mediador com uma escuta seletiva e perspicaz proporciona liberdade para que o casal fale e principalmente ouça o parceiro, perceba suas dores, suas fragilidades e principalmente suas expectativas.
Através de acompanhamento e do direcionamento desse profissional, o casal vai aprendendo a ter um diálogo eficaz e esclarecedor, ambos vão conseguindo entender-se, reconhecendo-se novamente, vão reaproximando-se, pois as mágoas vão sendo elaboradas e dissolvidas e o casal vai retomando a intimidade perdida em algum momento dessa relação.
Por que é importante a figura de um mediador?
As nossas relações são carregadas de sentimentos e emoções, e isso faz com que não consigamos nos relacionar de uma forma inteligente. Deixamos que sentimentos como raiva, ira, ciúmes, ódio e medo, sobressaiam em nossas discussões e com isso um descontrole total da situação.
Ninguém gosta de conviver com gritos ou com acusações, ninguém gosta de tantas cobranças e reclamações, ninguém gosta de falar e não ser ouvido, ninguém gosta de ser mal interpretado ou incompreendido.
Através das pontuações desse profissional, cada um terá seu momento de falar e de ouvir o outro, de mostrar como se sente e como está percebendo os sentimentos e as expectativas do parceiro. Muitas vezes, o que é dito soa como se nunca tivesse sido abordado, quase como uma novidade aos ouvidos do parceiro.
Normalmente, um dos dois não conhece e nem acredita ser preciso a ajuda de um profissional, e isso é que piora cada vez mais a relação. Se procurarem uma terapia de casal logo no início dos conflitos, ficará bem mais fácil sua restauração e a família estará muito mais fortalecida e preparada para as tempestades da vida.
Tentar uma sessão individual com o profissional para que esclareça como funciona a terapia de casal costuma ser bastante eficaz. Pois, através dessa sessão, o psicólogo explicará detalhadamente como conseguirá ajudar nesse processo e que, ao contrário do que pensam, não é nada invasivo e nem desconcertante, mas tremendamente acolhedor e libertador.
Enfim, espero ter esclarecido através desse pequeno resumo por quê a terapia de casal se faz tão importante na vida de um casal em crise e o quanto muitos casamentos ainda têm salvação, basta tomarem a decisão de aprenderem o que não sabem, e assim, transformarem totalmente essa dinâmica conjugal num relacionamento incrível, saudável e duradouro.
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